PALÁCIO DA LUZ
SEDE DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
ARTIGO
Por BATISTA DE LIMA
Publicado em 26 de julho de 2011
no DIÁRIO DO NORDESTE
" O Palácio e a Academia "
" O Palácio da Luz é cem anos mais antigo que a Academia Cearense de Letras. O Palácio nasceu no final do século XVIII e a Academia no final do século XIX. Entretanto, beirando o final do século XX (1989), os dois formaram uma união que perdura até hoje. O Palácio serviu de sede para o Governo do Estado de 1814 a 1970. Nesse período mais de noventa governantes governaram de lá. Assim, o Palácio da Luz tem se tornado um manancial de memórias políticas do Ceará. Para conhecer essa história com a memória da Academia, é preciso que se leia "A Academia Cearense de Letras e o Palácio da Luz".
Os autores do livro são José Murilo Martins e Regina Pamplona Fiúza. Dr. Murilo, além de membro da Academia, foi presidente daquele sodalício no período de 2005 a 2009. Já a professora Regina, há dezoito anos, é Diretora Administrativa da instituição. Os dois, em um trabalho conjunto, levantaram dados históricos do Palácio, sempre fazendo uma ponte com a história política do Ceará. A distância de poucos metros do Palácio para a Assembleia Legislativa transformava a praça General Tibúrcio, conhecida como Praça dos Leões, em um campo neutro entre o Executivo e o Legislativo, isso sem contar com o fórum a alguns metros do local, instalado na Praça da Catedral. Enquanto esses três poderes ocupavam o centro de Fortaleza, a vida latejava naquelas cercanias. Quando esses poderes dali se afastaram, o centro da cidade perdeu sua pujança.
A escrita desse livro é uma forma de revitalizar aquela região da cidade. Em suas páginas podem ser encontrados os nomes de todos os governantes que ocuparam o Palácio da Luz bem como os nomes de todos os componentes da Academia Cearense de Letras, de sua fundação até nossos dias. Esse trabalho de garimpagem mostra que oito desses governantes tiveram assento na Academia. Isso demonstra a proximidade entre o poder e as letras. Essa e outras curiosidades fazem parte do livro e é isso que o torna agradável. Por exemplo, os ataques que aquele palácio sofreu ao longo de sua história. No primeiro deles, o governante Clarindo de Queiroz (1891 - 1892) resistiu o tanto que pode ao ataque com canhões doze polegadas, metralhadoras e espingardas. "O bombardeio ocasionou graves danos na estrutura do prédio e 13 mortos, sendo um cadete da Escola Militar, sete defensores do palácio e cinco pessoas que estavam na redondeza".
Em outro momento, por ocasião do governo Franco Rabelo (1912 - 1914), um novo bombardeio se verificou, durante três dias, tendo o palácio sofrido graves avarias. É evidente que outros aconteceres de menor contundência ali se efetivaram, entrando inclusive no folclore ou no jocoso de nossa história. É o caso de bode Ioiô que fazia oposição ao governo e em algumas ocasiões, frente a manifestantes, dava marradas nas paredes da vetusta construção, aos berros de protesto. Outro foi o padre Verdeixa, que se chamava Alexandre Francisco Cerbelon Verdeixa e tinha como apelido "Canoa Doida". Nos meados do século XVIII chegou a ser deputado, sendo cassado por uma assembleia com vinte deputados em que onze eram também padres. Pois Padre Verdeixa, que era anarquista, como deputado, trajava-se de engraxate e disfarçadamente ingressava no Palácio para engraxar os sapatos do governador. Ali ele ouvia tudo que acontecia na sede do governo. À tarde, na Assembleia, como opositor que era, desembuchava uma ladainha de críticas ao mandatário.
Houve também quem atingiu o Palácio da Luz sem tiro nem marradas, mas com canetadas silenciosas ao tirar a sede do governo de suas dependências e transferi-la para o Palácio da Abolição, em 1970, no final da administração do governo Plácido Castelo. Esse acontecimento pode ser considerado como fatal para o abandono do centro de Fortaleza pelos poderes públicos que até então ali possuíam suas sedes. Fatos como esses fazem parte do livro do doutor Murilo Martins e de Regina Fiúza e tornam sua leitura necessária para quem quer conhecer nossa história.
Outro golpe que sofreu o Palácio ocorreu no governo Parsifal Barroso quando em 1960 permitiu que parte da construção fosse destruída para prolongamento da rua Guilherme Rocha até a rua Sena Madureira. Esse foi o golpe anunciador de uma futura desativação de suas funções como sede de nosso governo. Esse fato não passou despercebido à pena dos dois autores, como também não ficou o fato de que o governador Matos Peixoto, em 1928, promovia bailes dançantes nas dependências do Palácio. Na sua saída do governo, alguém colocou por lá uma placa: "Nesta casa não se dança mais".
Apesar da importância da apresentação dessas curiosidades históricas, é bom salientar que o ponto culminante do livro é aquele que trata diretamente da Academia Cearense de Letras se instalando no Palácio da Luz. Ela conseguiu seu ninho atual a partir de 1989 quando o seu então presidente Cláudio Martins conseguiu com o governador Tasso Jereissati a liberação do Palácio da Luz para a sua nova sede. Foi, no entanto, na administração do seu presidente Artur Eduardo Benevides que a Academia abriu as portas do Palácio para também servir de palco a reuniões e solenidades de quase duas dezenas de outras academias, fazendo do Palácio da Luz um permanente palco de efemérides culturais o que revitaliza o centro histórico de Fortaleza. É preciso portanto que se leia esse livro de Murilo Martins e Regina Fiúza para que se tenha ideia de toda essa efervescência cultural que hoje se desenvolve no Palácio da Luz, anfitrionada pela Academia Cearense de Letras."
BATISTA DE LIMA
PROFESSOR - ESCRITOR
MEMBRO DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
jbatista@unifor.br
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1016490&coluna=1
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