" Literatura "
" A causa que moveu uma vida"
" Uma trajetória firme e coerente, marcada por uma militância ativa, envolvimento político, formação intelectual e dedicação produtiva, tudo em prol de uma causa: a igualdade entre os homens. Essa é síntese da obra e da vida do jornalista e escritor cearense Rui Facó (1913 - 1963), como se revê na biografia "Rui Facó - O Homem e Sua Missão", do jornalista e editor Luís-Sérgio Santos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"O título remete à ideia de que a vida dele foi toda voltada para um engajamento consistente, que nos lembra a expressão de Antonio Gramsci de 'intelectual orgânico', aquele alinhamento ortodoxo que faz a parte se fundir no todo", explica autor da obra, que será lançada, hoje, no Auditório Murilo Aguiar, da Assembleia Legislativa.
Pesquisa
A pesquisa para a biografia durou 10 anos. Foi iniciada em 2003 e só concluída ano passado, justamente no centenário de nascimento do homenageado. O envolvimento do biógrafo com o seu biografado, contudo, data de muito tempo antes.
Segundo Luís-Sérgio Santos, Rui Facó era um "velho conhecido". Ele era o personagem de histórias que o jornalista ouvia a mãe contar. Ela conviveu com o intelectual comunista, tanto que sua irmã mais nova, Ana Facó, era amiga da família e foi madrinha de batismo de Santos.
Um segundo reencontro com Facó foi determinante para o projeto da biografia. Após se graduar em Comunicação Social, o jornalista leu a obra mais conhecida de Rui Facó, "Cangaceiros e Fanáticos". O estudo foi publicado só depois da morte do intelectual, mas tornou-se uma referência sobre a relação entre a religiosidade popular e o banditismo social - tanto que teria sido uma das fontes de inspiração de Glauber Rocha, no filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Da leitura deste livro, veio o desejo de Santos de recuperar a história deste autor cearense, importante, mas pouco lembrado.
Trajetória
Para mostrar ao leitor a importância do biografado, Luís-Sérgio Santos escolheu começar o livro pelo fim da vida do intelectual. Rui Facó morreu em um acidente aéreo, na Cordilheira dos Andes, em 1963. O biógrafo recupera não apenas o episódio como a repercussão a ele. Os contemporâneos atestavam a relevância do trabalho de Facó e a dedicação férrea à sua causa. Seus inéditos despertam interesse e, como se viu, um clássico do pensamento sobre o Nordeste saiu desse material.
A partir daí, se desenvolvem capítulos contando a história de Rui Facó, desde suas origens na zona rural de Beberibe. Nascido a 4 de outubro de 1913 em Beberibe, em uma família de classe média baixa, logo ele teve que trabalhar para pagar os seus estudos. Foi assim que o jovem Rui iniciou sua vida na imprensa cearense, na redação do jornal O Unitário. Ele também entra na vida acadêmica, sendo aprovado para cursar Faculdade de Direito, satisfazendo o desejo dos pais de vê-lo formado. Mergulhado em ambientes intelectuais de trabalho e estudo, Rui Facó não demorou a adentrar também no mundo da político, filiando-se ao Partido Comunista.
Ideologia
As perseguições ideológicas que encontrou em Fortaleza obrigaram Facó a deixar o Ceará, rumar a Bahia, onde não deixou de reintegrar-se nas atividades políticas e profissionais. Em Salvador finalizou o curso de Direito, interrompido pela mudança, e encontrou no trabalho dos Diários Associados a verdadeira paixão pelo ofício de repórter. Os anos do Estado Novo, iniciados em 1937, limitaram ao máximo a militância de Facó, levando-o inclusive à prisão. A repressão, contudo, não o afastou de sua causa.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a redemocratização e a volta à legalidade do Partido Comunista, Rui Facó se mudou para o Rio de Janeiro com a família, tornando-se secretário do jornal de esquerda A Classe Operária. Em 1952, partiu para a União Soviética, onde continuou a sua atividade jornalística na Rádio Moscou. Na URSS, pôde compreender não só os êxitos do modelo socialista, mas também os erros e prejuízos causados pela doutrina de culto à personalidade, tema que centralizou suas pesquisas futuras.
Rui Facó morreu às vésperas de seu cinquentenário. Seu livro de maior referência, "Cangaceiros e Fanáticos", foi no ano de sua morte. Nele, Facó historiciza e analisa grandes marcos da história brasileira protagonizados no seio agreste do Nordeste, como o cangaço atrelado à religião e os movimentos populares de Canudos, Contestado e Juazeiro. Outra obra de destaque do autor, traduzida para idiomas como espanhol, russo, italiano e tcheco, é "Brasil Século XX". Ela foi escrita a pedido de uma editora argentina. No livro, Facó aborda alguns problemas da formação social do Brasil, baseando-se em episódios marcantes de nossa história."
Mais informações
Lançamento do livro “Rui Facó – O Homem e Sua Missão”.
Hoje, às 19h no Auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa (Av. Desembargador Moreira, 2807)
Hoje, às 19h no Auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa (Av. Desembargador Moreira, 2807)
Contato: (85)3277.2500
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/a-causa-que-moveu-uma-vida-1.845572
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