SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

POESIA CEARENSE: OTACÍLIO COLARES




IMAGEM: http://www.ultraimagens.com/de/paz/




A estranha lavra


Otacílio Colares ¹

Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.
E onde antes lavrara o amor,
E os hábitos próprios e as tradições,
Lavram ainda a alheia cizânia, o alheio ódio.


Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.


As mãos que lavraram firmas em pergaminho
Não irão lavrar os campos doloridos,
Ainda plenos da imagem dos mortos.


Lavraram acordos
Não lavraram a paz.


Onde antes lavraram os arados
Lavram fome, desespero e pranto,
Regando faces – campos de incertezas.


Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.


O que lavra ainda em tudo é o grande medo,
E a desesperança, e o desencanto
Na face pálida dos que restaram vivos.


Lavraram acordos,
Não lavraram a paz,
Que atrás dos risos dos embaixadores
O fundo é o fumo avassalante dos incêndios
E choro vago das crianças sem amanhã.


 
Fortaleza, 1973

¹ Otacílio Colares  

* Fortaleza, CE. – 1918 d.C
+  Fortaleza, CE. – 1988 d.C


FONTE: BLOG DO MESQUITA
http://mesquita.blog.br/


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