SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

terça-feira, 8 de novembro de 2011

POESIA CEARENSE: JÁDER DE CARVALHO








Terra Bárbara




Na minha terra,

as estradas são tortuosas e tristes

como o destino de seu povo errante.

Viajor,

se ardes em sede,

se acaso a noite te alcançou,

bate sem susto no primeiro pouso:

— terás água fresca para sua sede,

— rede cheirosa e branca para o teu sono.





Na minha terra,

o cangaceiro é leal e valente:

jura que vai matar e mata.

Jura que morre por alguém — e morre.



(Brasil, onde mais energia:

na água, que tem num só destino

do teu Salto das Sete Quedas

ou na vida, que tem mil destinos,

do teu jagunço aventureiro e nômade?)

Ah, eu sou da terra do seringueiro,

— o intruso

que foi surpreender a puberdade da Amazônia.





Eu sou da terra onde o homem, seminu,

planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.

Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá

e fui crescer nos canaviais do Cariri,

entre caboclos belicosos e ágeis.





Filho de gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos,

eu sou o índice do meu povo:

se o homem é bom — eu o respeito.

Se gosta de mim — morro por ele.

Se, porque é forte, entender de humilhar-me,

— ai, sertão!

Eu viveria o teu drama selvagem,

eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,

como antes te acordava ao choro da viola...





Jáder de Carvalho




 

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