SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

AQUÁRIO x FOME E MISÉRIA




Cerca de 30 pessoas estão vivendo numa calçada, sob a sombra de castanholas, na Rua dos Tabajaras, onde cozinham, dormem e fazem suas necessidades
FOTO: CAMILA LEITE - DIÁRIO DO NORDESTE


" PRAIA DE IRACEMA

Sem-teto ocupam prédio do futuro Acquario."


" A situação de miséria contrasta com a da cidade dos belos cartões-postais e do grande fluxo turístico

A cidade dos cartões-postais contrasta com a miséria em que vive um grupo de sem-teto na Rua dos Tabajaras, Praia de Iracema, na calçada do prédio onde será instalado o Acquario do Ceará e funcionou o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Falta higiene, comida, água, emprego e, principalmente, dignidade.

Sob a sombra de algumas castanholas, cerca de 30 sem-teto, entre adultos e crianças, "teimam" em sobreviver, apesar do descaso. A catadora de lixo Patrícia Oliveira, 31, é uma das mais antigas no local. Tentando enganar a fome, ela bebe água com açúcar, enquanto comenta sobre a rotina de quem teve o direito à moradia violado e perdeu o rumo e os sonhos. "A gente vive com fome, vivendo o hoje e vendo como vai ser o amanhã. Tem três grupos morando aqui juntos nessa mesma calçada, mas a convivência não é fácil", frisou.

Amontoados em um ambiente sujo, simulando uma casa com quarto, sala e cozinha, os grupos de sem-teto se aglomeram, chamando atenção de quem passa pelo local. A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) informou que já visitou o local e mantem uma equipe para mapear demandas.

O grupo reclama, ainda, do preconceito: muitos têm medo e se incomodam com a sua presença. Preocupado com a situação dos novos vizinhos, o advogado Joaquim Guerreiro, morador do edifício Vila de Iracema, pede ao poder público solução imediata para o problema e reclama do mau-cheiro que já exala do local.

"A presença deles é perigosa; é ruim passar pelo local, ver a sujeira e um monte de crianças largadas. Tem até o perigo de incêndio visto que eles acendem fogareiros. Tem até gente usando drogas", frisou ele.

Chateada com os preconceitos sofridos, Antônia Maria Nascimento, 37, se disse revoltada com os estigmas que o morador de rua carrega. "O povo passa e pensa que a gente é tudo ladrão e fumador de drogas. Não somos; meu filho trabalha como catador e tira um trocado. Meu sonho é ter um lugarzinho", ressaltou a mãe de quatro filhos.

Fome de cada dia

"Tem até o fogão acesso, mas não temos o que comer. Vou reciclar papel para ver se acho feijão em alguma sacola no lixo", afirmou José Gregório, enquanto se arrumava para ir juntar material reciclado. No grupo em que vive moram cercam de 20 homens que, sem emprego e moradia, adotaram a sombra da castanhola como lar. Para ele, a fome e o medo são o pior. "A gente sofre muito", disse, confessando que até chega a usar drogas, mas longe dali.

Valdécio da Silva, 47, não sabe mais o que é sossego, perdeu os vínculos familiares e a perspectiva de vida. Seus olhos chorosos lamentam a vergonha de ter que mendigar e viver da ajuda dos outros. "A gente vive como dá. No geral, nos ignoram, nos tratam como lixo".

Um banho de mar

Em meio a tanta miséria e vulnerabilidade social, ainda há ânimo para um sorriso: as filhas de Dona Antônia Maria Nascimento, de dois e sete anos, se divertem e dão gargalhadas como se nada de ruim estivesse lhes acontecendo. Correndo de um lado para outro, as meninas se divertem com o banho de mar refrescante em pleno sol do meio-dia. "Elas adoram tomar banho no mar e gostam de olhar a vista. Vivemos no meio das bonitezas dos ricos, da cidade dos turistas. É a pobreza e a riqueza juntas", criticou a mãe, enquanto fazia carinho nas filhas e tentava as proteger dos riscos de morar na rua.

ENQUETE
Presença incomoda

Fátima Santos
55 ANOS
Telefonista
Não gosto da presença desses moradores de rua aqui. Por causa deles, tem muito assalto, muito roubo a carros

Dulce Maria
54 ANOS
Técnica de enfermagem
A presença dos moradores prejudica a imagem de Fortaleza. A cidade fica feia; afasta o turista, que não volta

SEMAS
Prefeitura diz que famílias já estão sendo acompanhadas

A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) divulgou uma nota informando que a "população em situação de moradia de rua que hoje se encontra na calçada da rua dos Tabajaras já está sendo acompanhada pela Equipe do Serviço Especializado de Abordagem de Rua. Essa equipe já realizou duas visitas ao local e constatou que as pessoas que lá se encontravam, em sua maioria, têm problemas de álcool e drogas".

Conforme a nota, a Semas verá a possibilidade do grupo começar a ser atendido pelo Centro de Atendimento à População de Rua (CAPR) que acolhe e oferece cursos e lazer.

Números

Conforme a Prefeitura de Fortaleza, de dezembro de 2007 até julho último, o CAPR já cadastrou 1.002 pessoas. Do total, a maioria são homens (83%), com idade entre 18 e 29 anos (40,57%), solteiros (68,46%) e que estão nas ruas há menos de seis meses (41%).

Dentre os principais motivos por estarem nas ruas, destacam-se o consumo de drogas lícitas e ilícitas (32,13%), o desemprego (24,25%) e o registro de conflitos familiares (22,75%)."


DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=839728

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falAÇÃO


AQUÁRIO X FOME E MISÉRIA

Enquanto o Governo do Estado, contra a maioria da opinião pública,leva em frente a idéia de construir um aquário em Fortaleza, muitas famílias não tem onde morar, não tem o que comer, não tem hospitais, não tem escolas públicas de qualidade, etc...
Antes da construção do Aquário o Governador deveria priorizar o social...
O HOMEM...

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