SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

QUEM QUER SER PROFESSOR ????




COLUNA

Batista de Lima

caderno3@diariodonordeste.com.br



" O futuro do magistério "
" Há quem diga que em breve teremos um apagão na educação, provocado pela falta de professores. Salários baixos, violência nas escolas e falta de licenciaturas suficientes para a demanda de estudantes são as razões principais. Ser professor, hoje, principalmente em escolas públicas de ensino fundamental e médio, é uma aventura. Não há mais como estimularmos os jovens a abraçarem a carreira do magistério.

Hoje, os alunos de licenciaturas, ao concluírem seus cursos, passam logo para especializações, mestrados e doutorados, com o fim de ingressarem no magistério já no ensino superior. Há um temor em iniciar a carreira pela base, pelo ensino fundamental. Por isso, a falta de professores nas séries iniciais vai aumentando a cada ano. A nossa educação pública, que investe prioritariamente no ensino superior, constrói uma pirâmide com seu cimo de ouro e a base de barro.

Acontece que aluno do ensino fundamental não reivindica, não faz passeata, não quebra ônibus, e, principalmente, não vota. Daí ser o setor menos assistido da educação pública. E o professor que se propõe a ensinar nessas séries iniciais vai ganhar menos do que investiria se fosse fazer uma licenciatura em instituição particular. Por isso, as licenciaturas estão ficando enclausuradas nas instituições públicas de ensino, o que não dá para suprir a necessidade de professores nessas escolas.

Houve um tempo em que se ingressava no magistério, ministrando aulas para alunos do ensino básico. Era o melhor aprendizado para se galgarem turmas adiantadas. Não faltava professor nas escolas. Mesmo ainda na Universidade, já se ministravam aulas, o que era o melhor estágio para a futura carreira profissional. Atualmente, os pais ficam desconcertados quando um filho revela que vai fazer uma licenciatura e se tornar professor. Não há mais estímulo nem no seio familiar. Pelo contrário, ser professor, hoje, significa como última opção no mercado de trabalho.

Diante desses percalços, principalmente o desestímulo, o professor pouco se prepara para a docência. Os cursos de licenciatura, que ainda resistem, primam pela teoria. Trazem para sala de aula saberes de importação e esquecem a didática adaptada ao local e às condições em que vivem. Quando está no ensino médio, com mais de uma dúzia de disciplinas, o aluno fica baratinado e o professor é orientado para ensinar visando ao Enem ou ao vestibular. Não se ensina para a vida. A pedagogia do afeto também não é exercitada. O aluno, que já convive muito pouco com os pais, não encontra o afeto perdido também na escola com suas turmas numerosas.

Tudo isso leva à triste constatação de que a educação brasileira é vítima de um déficit de mais de 40.000 professores no ensino básico. O pouco que se faz diante desse descalabro é colocar em salas de aula pessoas que nunca fizeram uma licenciatura e, portanto, não têm nenhuma formação pedagógica, nunca tendo sido treinadas em didática do ensino. Esses problemas são do conhecimento público, mas as soluções pouco são discutidas. É evidente que a primeira delas passa pela formação de professores. Criar estímulos para que o magistério se torne uma profissão atrativa. Esses estímulos precisam começar quando o estudante vocacionado para o magistério esteja ingressando na licenciatura. Se as universidades públicas não são suficientes para essa formação, que o Governo encontre mecanismos de financiar, nas instituições particulares, cursos de licenciaturas.

Essa formação de professores juntamente com a flexibilização do currículo escolar pode melhorar até a qualidade do ensino. Entretanto, o modelo atual, praticamente falido, que proporciona ao aluno apenas quatro horas diárias na escola, só muda se a escola for de tempo integral. O estudante precisa passar no mínimo seis horas na escola, mesmo sabendo-se que o ideal seja de oito horas. Fala-se que o tempo integral é oneroso demais para o governo. Não se diz, no entanto, que mais onerosas são as consequências de uma juventude sem o amparo educacional necessário. A construção de escolas diminui a construção de prisões.

Outra solução para o estudante criar gosto pelo estudo é a valorização das diferenças individuais. O currículo nacional é um só para milhões de estudantes. Não se respeitam diferenças individuais nem regionais. Há uma determinação única para um continente chamado Brasil. Esse desrespeito culmina com o Vestibular que sempre foi algo prejudicial ao ensino. Agora criaram o Enem, um Vestibular que apenas mudou de nome. Tão difícil, tão complicado que educadores, reitores e quaisquer outras pessoas não passariam se a ele se submetesse. Acontece que nossos alunos, nossos filhos, são obrigados a passar por ele, afinal, as escolas só estão ensinando para esse fim. Por fim, resta-nos procurar soluções de melhora para nossa educação, começando por verificar os casos que têm dado certo, para que nos sirvam de exemplo. Se uma escola lá do Piauí é a segunda melhor do Brasil, numa avaliação em que participaram mais de vinte mil escolas, que seu caso frutífero seja divulgado. Que nós que procuramos saídas, analisemos casos que dão certo, para nos mirarmos neles. Não tenho dúvida, no entanto, de que a boa formação de professores e sua valorização posterior são fundamentais para mudar o perfil atual de nossa educação."



BATISTA DE LIMA
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, POETA, CRÍTICO LITERÁRIO
ESCRITOR DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS


FONTE:  JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1094492&coluna=1

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