" Incentivo à leitura "
" Bibliotecas são insuficientes na zona rural "
Limoeiro do Norte.
" Um livro leva a vários lugares, bem mais lugares onde é possível encontrar livros. No Ceará, praticamente todo Município tem ao menos uma biblioteca. Na maioria dos casos, o acesso se limita ao público da sede. E na maioria das cidades, as comunidades distantes, essencialmente rurais, não têm acesso à biblioteca - a não ser a da própria escola, com reduzido acervo.
Com a boa vontade de parceiros, as comunidades rurais recebem livros de forma alternativa, que chegam sendo trazidos até por bicicletas. O objetivo é fazer com que a dificuldade de acesso à leitura seja superada FOTOS: MELQUÍADES JÚNIOR
Há casos em que a biblioteca pública é apenas um conjunto de livros antigos ou didáticos. Falta atualização de material; em outros, tem livro, mas não há condições de uma leitura tranquila. Com iniciativas das próprias comunidades, alguns espaços têm-se tornado verdadeiras "casas de leitura". É especialmente a iniciativa e a mobilização de moradores que tem colocado o Ceará entre os principais Estados do País com bibliotecas rurais.
O Ceará conta com aproximadamente 190 bibliotecas públicas municipais. Basicamente na zona urbana. Cláudia Lima, moradora de Ingá, zona rural de Russas, não tem acesso; Tadeu Júnior, do Sítio Boa Fé, em Limoeiro, também não. A biblioteca de Canoa Quebrada, em Aracati, é uma exceção, assim como outros equipamentos dessa natureza nas escolas públicas. E quando tem esse estabelecimento, falta um bibliotecário, profissional capacitado para o entendimento do espaço bibliográfico e a importância da ampliação do acesso à informação. Sim, pois além de reunir acervo de livros, "é função da biblioteca transmitir e difundir o conhecimento", afirma Pedro Freire, graduado em biblioteconomia.
"Sem querer diminuir importância da prática esportiva, mas se os governos municipais investissem em bibliotecas nas comunidades o tanto que conseguem de recursos para construção de quadra poliesportiva, além de atletas teríamos grandes leitores", afirma a professora Ana Laura, de Russas.
Dois projetos, um de ordem federal e outro estadual, têm ajudado a diminuir a grande deficiência de casas de leitura e acesso ao conhecimento: projetos "Agentes de Leitura" e "Arca das Letras". Cada agente de leitura acompanha o processo leitor de 25 famílias de comunidades em Municípios de evidente vulnerabilidade social e com alto índice de focalização dos agentes de leitura (Ifal), indicador elaborado especialmente para a ação pelo Instituto de Pesquisa Econômica do Ceará (Ipece).
Nessa ação de a biblioteca ir ao homem há a contribuição para o acesso à leitura e no ano passado chegou às regiões de Sertão Central, Vales do Curu e Aracatiaçu e Sertões de Canindé. Ao mesmo tempo baú e estante, a "arca" percorre localidades rurais e escolas levando livros para comunidades que não têm acesso à biblioteca. A ação é resultado da parceria entre o MDA e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), com apoio de prefeituras, do Instituto Agropolos, da Delegacia Federal do MDA no Ceará e da Secretaria de Cidadania e Justiça.
As arcas (móveis-bibliotecas) do Ceará foram fabricadas por sentenciados dos Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira I e II (IPPOO I e IPPOO II). Os sentenciados que fabricam as arcas têm a pena reduzida e recebem bolsas de trabalho do Governo do Estado, dentro de seu programa de ressocialização.
Arca das Letras chegou ao Ceará em 2004, com apoio do Banco do Nordeste e do Projeto Dom Hélder Câmara, no Território da Cidadania Sertão Central. Hoje, já funcionam 807 bibliotecas rurais Arca das Letras no Estado, que beneficiam mais de 80 mil famílias moradoras do campo. Foram capacitados 1.600 agentes de leitura que atuam voluntariamente no empréstimo dos livros e no incentivo à leitura. Segundo o Ipece, o Ceará é o segundo estado do País em número de bibliotecas rurais, atrás de Santa Catarina.
Arca das letras
807 bibliotecas rurais Arca das Letras funcionam, hoje, no Estado, que beneficiam mais de 80 mil famílias moradoras do campo. Foram capacitados 1.600 agentes
Moradores ajudam a organizar espaço
A biblioteca da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Afidam), localizada em Limoeiro do Norte, terá todo acervo digitalizado, espaço de leitura e laboratório de informática. Na foto, o diretor Hidelbrando dos Santos
Limoeiro do Norte. A comunidade leitora ajuda a organizar e garantir a existência. Quem pode, vai trazendo livros, apostilas para outros leitores que possam se interessar. E dessa forma chega aos 42 anos a Biblioteca Pública Municipal João Eduardo Neto, em Limoeiro do Norte. Livros, imagens e poesia. Na Ilha de Santa Therezinha, na mesma cidade, um entusiasta da comunidade está no início da concretização de um sonho: criar mais que uma biblioteca, um centro cultural.
Ítalo Diógenes, de Limoeiro, entende que quem não gosta de ler, ou não entende a história - seja antiga ou moderna - é porque primeiro não teve a oportunidade de um melhor acesso. Porque curiosidade para conhecer os personagens foi o que despertou quando instalou em sua casa estátuas de Cristo Redentor, São Francisco, Padre Cícero, Frei Damião, Patativa do Assaré, Luiz Gonzaga, Frei Damião e, também, Lampião.
"Valorizar o feito dessas pessoas é nos ligar à raiz", afirma Ítalo, que pretende construir um acervo bibliográfico de cada uma das estátuas e, mais que isso, fazer da própria casa um centro cultural. "O povo da Ilha é marginalizado, visto com muito preconceito. As crianças daqui precisam de um espaço onde possam ampliar os conhecimentos para além da escola".
De propostas como essa nasceu a Casa da Leitura, mantida pelo Instituto Waldemar Falcão, em Aracati. O espaço reúne leitores, atores de teatro, pessoas que apreciam fotografia e gravuras.
A casa é histórica. Fica onde era a antiga sede da Legião Brasileira de Assistência (LBA), localizada entre ruas de personagens históricas da cidade: Coronel Pompeu, esquina com a rua Adolfo Caminha.
Em Limoeiro, a principal casa de leitura ainda é a biblioteca pública municipal, que existe há 42 anos e ainda luta por uma sede própria. Com os dados contabilizados no ano passado, a biblioteca dispunha de um acervo de 21 mil títulos, entre assuntos diversos, literatura infantil, periódicos, fotografias históricas e folhetos de cordel. A média de empréstimo chega a 45 livros por dia. Mas quem quer ler na biblioteca, conta com silêncio e tranquilidade de 7h às 21horas, de segunda a sexta-feira. Pelo lugar, passaram e passam, ainda hoje, vários estudantes que querem participar de concursos públicos, vestibulares, ou mesmo fazer as leituras com as centenas de escritores que estão ao alcance das mãos nas prateleiras.
E para quem quer uma fonte de pesquisa mais apurada, o maior acervo hoje é possível ser visto na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), unidade descentralizada da Uece. Após reforma e ampliação, atende a 16 municípios do Vale do Jaguaribe. Muitos leitores de comunidades rurais onde não existem bibliotecas.
Fique por dentro
Municípios que recebem o projetoO Projeto Agentes de Leitura atua em 41 municípios no Ceará selecionados em conformidade com IFAL nas macrorregiões do Estado: Litoral Leste/Vale do Jaguaribe: Potiretama, Jaguaretama e Beberibe; Sertão Central: Dep. Irapuan Pinheiro, Mombaça e Boa Viagem; Litoral Oeste/Vale do Curu: Miraíma, Uruoca, Granja,Barroquinha e Chaval; Sertões dos Inhamuns: Quiterianópolis, Parambu, Novo Oriente, Ararendá, Ipaporanga, Poranga, Ipueiras, Monsenhor Tabosa e Tamboril; Vale do Acaraú/Ibiapaba: Graça, Coreaú, Moraújo, Senador Sá e Croatá; Cariri/Centro Sul: Salitre, Tarrafas, Araripe, Saboeiro, Potengi, Antonina do Norte, Santana do Cariri, Mauriti, Granjeiro, Altaneira, Assaré, Porteiras, Nova Olinda e Quixelô; Região Metropolitana: Caucaia e São Gonçalo do Amarante."
Mais informações:
Associação de Bibliotecários do Ceará
Av. Santos Dumont, 1687, Aldeota, Fortaleza
Telefone: (85) 3244.0357
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1157429
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