150 anos
Iracema: lenda poética do CE
" Escritor Antônio Torres, integrante da Academia Brasileira de Letras, debate obra do cearense José de Alencar "
A relação entre Antônio Torres e o romance de José de Alencar é forte. Foi com o livro "Iracema" que o baiano aprendeu a ler e a escrever. Durante a infância no interior da Bahia, ter um livro foi o que lhe deu consciência sobre o mundo. "Naquele tempo, para mim, o mundo não existia; só passou a existir quando ganhei um livro", chegou a declarar o escritor durante a Feira Nordestina do Livro, que aconteceu recentemente em Pernambuco.
Foi pela leitura de "Iracema" que o escritor passou a sonhar com os verdes mares e se encantar com as pessoas. Mas a influência de José de Alencar na sua trajetória não fica por aí.
Assim como o cearense fez no romance "O Guarani", Antônio Torres tenta construir a gênese da nação brasileira, reescrevendo, de certo modo, a história do Brasil na obra "Meu querido canibal".
Heróis indígenas
São dois projetos literários bastante diferentes, mas que constroem heróis indígenas e revisam o discurso da história oficial brasileira. Antônio Torres vem a Fortaleza a convite do presidente da Academia Cearense de Letras, o bibliófilo José Augusto Bezerra, para participar de dois eventos, hoje e amanhã, com o objetivo de discutir o livro Iracema, em comemoração aos 150 da obra de José de Alencar. Os eventos fazem parte do Ciclo de Conferências 2015 da Academia Cearense de Letras, coordenado pela acadêmica Angela Gutiérrez, que é também diretora cultural da instituição.
Obra
O romance "Iracema" teve sua primeira edição publicada em 1865. A obra, considerada a grande obra-prima de José de Alencar, apresenta uma lenda poética e simbólica sobre a formação do povo cearense e do Brasil. O enredo é o romance entre uma índia "virgem dos lábios de mel" chamada Iracema e o português Martim Soares Moreno. A união entre os dois, unindo duas raças, gera Moacir, que sintetizaria a origem do povo cearense.
O livro foi traduzido para diferentes idiomas e tem como grande característica a ideia de identidade nacional. "Iracema" integra uma trilogia indianista de José de Alencar, juntamente com os livros "O Guarani", publicado em 1857 e "Ubirajara", escrito em 1874.
Considerada uma narrativa universal e, segundo alguns críticos, marcada pela prosa poética, "Iracema" conta a história do Ceará, mas também a do Brasil e mesmo da América Latina - locais habitados por índios que sofreram colonização por povos europeus.
Profundidade
A obra contém uma inegável profundidade sobre a história do Ceará, podendo ser considerada ainda um símbolo de resistência, tendo em vista que, na época, o imperador Dom Pedro II e o presidente da então província do Ceará, José Bento da Cunha Figueiredo Junior, declararam a extinção das etnias indígenas cearenses. Em "Iracema", José de Alencar chega a colocar nas notas de rodapé os locais habitados pelos índios cearenses.
A personagem Iracema é tão importante para a cultura cearense e fortalezense que, há quatro anos (em 2011), foi aprovada uma lei pelos vereadores de Fortaleza para que a gestão municipal promova e apoie eventos comemorativos todos os anos no sentido de difundir e de preservar o patrimônio cultural relacionado à obra e à memória de José de Alencar, um dos mais importantes escritores cearenses.
Mais informações:
Fala de Antônio Torres no II Literar. Hoje, das 8h45 às 10h, no Teatro do Farias Brito (R. 8 de Setembro, 1331, Varjota). Contato: (85) 3253.4275
Conferência "Iracema, 150 anos sem perder o encanto". Nesta segunda (21), às 16h, no Ideal Clube (Av Monsenhor Tabosa, 1381, Meireles). Contato: (85) 3248.5688
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/iracema-lenda-poetica-do-ce-1.1390052
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