Antônio Torres ocupa a cadeira de número 23 da ABL
cujo patrono é José de Alencar
" O romancista baiano Antônio Torres ocupa, há quase dois anos, a cadeira
de número 23 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é o
escritor cearense José de Alencar. O intelectual vem à capital cearense
para dois eventos literários. Hoje, ele participa do II Encontro de
Escrita e Leitura, no Teatro do Farias Brito, onde ministra a palestra
"Como nasce uma história". Já na segunda-feira (21), o autor participa
da conferência "Iracema, 150 anos sem perder o encanto", realizada pela
Academia Cearense de Letras no Salão Meireles do Ideal Clube.
A relação entre Antônio Torres e o romance de José de Alencar é forte.
Foi com o livro "Iracema" que o baiano aprendeu a ler e a escrever.
Durante a infância no interior da Bahia, ter um livro foi o que lhe deu
consciência sobre o mundo. "Naquele tempo, para mim, o mundo não
existia; só passou a existir quando ganhei um livro", chegou a declarar o
escritor durante a Feira Nordestina do Livro, que aconteceu
recentemente em Pernambuco.
Foi pela leitura de "Iracema" que o escritor passou a sonhar com os
verdes mares e se encantar com as pessoas. Mas a influência de José de
Alencar na sua trajetória não fica por aí.
Assim como o cearense fez no romance "O Guarani", Antônio Torres tenta
construir a gênese da nação brasileira, reescrevendo, de certo modo, a
história do Brasil na obra "Meu querido canibal".
Heróis indígenas
São dois projetos literários bastante diferentes, mas que constroem
heróis indígenas e revisam o discurso da história oficial brasileira.
Antônio Torres vem a Fortaleza a convite do presidente da Academia
Cearense de Letras, o bibliófilo José Augusto Bezerra, para participar
de dois eventos, hoje e amanhã, com o objetivo de discutir o livro
Iracema, em comemoração aos 150 da obra de José de Alencar. Os eventos
fazem parte do Ciclo de Conferências 2015 da Academia Cearense de
Letras, coordenado pela acadêmica Angela Gutiérrez, que é também
diretora cultural da instituição.
Obra
O romance "Iracema" teve sua primeira edição publicada em 1865. A obra,
considerada a grande obra-prima de José de Alencar, apresenta uma lenda
poética e simbólica sobre a formação do povo cearense e do Brasil. O
enredo é o romance entre uma índia "virgem dos lábios de mel" chamada
Iracema e o português Martim Soares Moreno. A união entre os dois,
unindo duas raças, gera Moacir, que sintetizaria a origem do povo
cearense.
O livro foi traduzido para diferentes idiomas e tem como grande
característica a ideia de identidade nacional. "Iracema" integra uma
trilogia indianista de José de Alencar, juntamente com os livros "O
Guarani", publicado em 1857 e "Ubirajara", escrito em 1874.
Considerada uma narrativa universal e, segundo alguns críticos, marcada
pela prosa poética, "Iracema" conta a história do Ceará, mas também a
do Brasil e mesmo da América Latina - locais habitados por índios que
sofreram colonização por povos europeus.
Profundidade
A obra contém uma inegável profundidade sobre a história do Ceará,
podendo ser considerada ainda um símbolo de resistência, tendo em vista
que, na época, o imperador Dom Pedro II e o presidente da então
província do Ceará, José Bento da Cunha Figueiredo Junior, declararam a
extinção das etnias indígenas cearenses. Em "Iracema", José de Alencar
chega a colocar nas notas de rodapé os locais habitados pelos índios
cearenses.
A personagem Iracema é tão importante para a cultura cearense e
fortalezense que, há quatro anos (em 2011), foi aprovada uma lei pelos
vereadores de Fortaleza para que a gestão municipal promova e apoie
eventos comemorativos todos os anos no sentido de difundir e de
preservar o patrimônio cultural relacionado à obra e à memória de José
de Alencar, um dos mais importantes escritores cearenses.
Mais informações:
Fala de Antônio Torres no II Literar. Hoje, das 8h45 às 10h, no Teatro
do Farias Brito (R. 8 de Setembro, 1331, Varjota). Contato: (85)
3253.4275
Conferência "Iracema, 150 anos sem perder o encanto". Nesta segunda
(21), às 16h, no Ideal Clube (Av Monsenhor Tabosa, 1381, Meireles).
Contato: (85) 3248.5688
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/iracema-lenda-poetica-do-ce-1.1390052