O Nobel distante do Brasil
Lygia Fagundes Telles foi a escritora indicada este ano pela União Brasileira de Escritores para o Prêmio
A indicação da escritora Lygia Fagundes Telles, de 92 anos, provocou burburinho nas redes sociais e acendeu, mais uma vez, a esperança de um autor brasileiro conquistar o Prêmio Nobel de Literatura. O nome da ficcionista foi o escolhido pela União Brasileira de Escritores - instituição, regularmente, convidada pela Real Academia Sueca para sugerir concorrentes.
De certa maneira, a ânsia de um dos nossos escritores ser agraciado com o Nobel lembra a eterna torcida para levarmos um Oscar, na categoria de Filme Estrangeiro (as demais, nos parecem demasiado distantes, senão inacessíveis). Acontece que, se há filmes nacionais que justificam a empolgação dos cinéfilos, o mundo literário costuma vacilar diante da escolha de seu concorrente aquele que é o mais famoso prêmio literário do mundo.
Não falta quem torne pública a sua indignação diante de uma "injustiça história". São aqueles que evocam nomes que mereciam ter recebido, caso dos gigantes Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Insistir nesse ponto, do que deveria ter acontecido, é esquecer que outros grandes nomes da literatura também ficaram de fora da lista da honraria. O francês Marcel Proust não levou, talvez por tocar em pontos polêmicos à época, com seu "Em busca do tempo perdido". O irlandês James Joyce sequer foi indicado. E, ainda hoje, os argentinos se ressentem por Jorge Luis Borges não ter levado o prêmio.
O problema dos escritores brasileiros contemporâneos não é a falta de talentos literários. Difícil mesmo é chegar a um consenso quanto ao candidato brasileiro. Os EUA têm uma lista de favoritos, com Philip Roth à frente; os japoneses, Haruki Murakami. Aqui, alguns nomes são recorrentes, como o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar e a romancista Nélida Piñon, já indicados pela UBE. A entidade, contudo, já fez indicações difíceis de entender. Em 2014 e 2015, o nome encampado pela UBE foi o do baiano Moniz Bandeira - diplomata, historiador e cientista político, com incursões pela poesia, e pouca expressão no meio literário brasileiro. A opção por Lygia Fagundes Telles aponta em outra direção
Reconhecimento
A escolha de Lygia, autora de Ciranda de Pedra e As Meninas, entre tantos outros sucessos de crítica e de público, foi unânime. "Lygia é a maior escritora brasileira viva e a qualidade de sua produção literária é inquestionável", disse o advogado e escritor Durval de Noronha Goyos, presidente da UBE, em comunicado.
No fim do ano, ela venceu o Prêmio Fundação Conrado Wessel 2015 na categoria Cultura, e ganhou R$ 300 mil. A cerimônia de entrega deve ocorrer ainda neste semestre. Em novembro, ela foi homenageada durante o Encontro Mundial de Invenção Literária, em sessão da Academia Paulista de Letras (ela é imortal, também, da Academia Brasileira de Letras), e causou comoção ao dizer que sua luta foi "heroica e desesperada". Lygia Fagundes Telles fez história ao se tornar uma das primeiras mulheres a estudar Direito no Largo São Francisco.
A autora tem obras traduzidas para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco e tcheco. Alguns de seus títulos foram adaptados para o cinema, teatro e televisão. A presença de Lygia no mercado estrangeiro é um ponto positivo para sua candidatura.
Ainda que o Nobel não recorra exclusivamente a este critério (vide a premiação do francês Patrick Modiano, em 2014, que à época só tinha um único título disponível em inglês e, no Brasil, estava com seus poucos livros traduzidos fora de catálogo), analistas apontam a diminuta expressão do português no mundo editorial e literário, em escala mundial, como um dos obstáculos enfrentados pelos escritores brasileiros.
Desde a primeira edição do prêmio, em 1901, apenas um autor de língua portuguesa recebeu o Nobel de Literatura, o português José Saramago, em 1998.
Os mais recentes premiados com o Nobel de Literatura foram a bielorrussa Svetlana Alexievich (2015), o francês Patrick Modiano (2014), a canadense Alice Munro (2013), o chinês Mo Yan (2012), o sueco Tomas Tranströmer (2011) e o peruano Mario Vargas Llosa (2010).
(Com informações da Agência Estado)
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-nobel-distante-do-brasil-1.1486634 http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-nobel-distante-do-brasil-1.1486634
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