SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

" Bullying: luta da força versus a fragilidade "

FOTO: MARÍLIA CAMELO




" Por pequenas diferenças físicas ou comportamentais meninos e meninas sofrem diversos tipos de violência dentro das escolas"


FOTO: MARÍLIA CAMELO
Colégios públicos e particulares servem, cada vez mais, como palco para atos de agressões físicas e verbais entre crianças e adolescentes

Infância e adolescência, fases que deveriam ser lembradas por brincadeiras sadias e alegrias são marcadas por momentos para serem esquecidos. Um jogo de forças domina a vida de centenas de crianças e jovens. Poder versus fragilidade, ambos com resquícios de inocência. Como espaço para a luta está a escola, local cuja finalidade principal é a formação de indivíduos por meio da educação, do respeito e da cidadania. Um problema que existe, acontece silenciosamente e que quando vem à tona pode ser tarde demais. A exemplo do caso do massacre na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, no início deste mês, cujo assassino, segundo especialistas, era vítima de bullying.

No Ceará, apesar de não haver registro de situações extremas, a preocupação com o problema existe entre pais, docentes e nas comunidades. Por pequenas diferenças físicas ou comportamentais meninos e meninas sofrem diversos tipos de violência. Basta ser gordo ou magro, alto ou baixo, tímido ou extrovertido para que o respeito seja colocado de lado. É o bullying passando a fazer parte, cada vez mais, do cotidiano escolar brasileiro e cearense.

Segundo Veriana de Fátima Colaço, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará e doutora em Educação, o bullying se caracteriza por formas de violências verbais ou físicas, que envolvem situações de humilhação recorrentes e que expressam intolerância com a diferença. "Este fenômeno deve ser encarado não apenas como um problema particular dos que sofrem, mas como um problema social que tem repercussões bem mais amplas para a sociedade em geral", afirma.

Vida real

"O meu sonho é ir para uma escola onde eu tenha amigos e possa brincar e estudar em paz", declara de cabeça baixa Pedro (nome fictício para preservar a identidade da criança), de 11 anos. Ele, que sofre de transtorno bipolar, é alvo constante de agressão no colégio onde cursa a terceira série do Ensino Fundamental.

Por conta do seu problema, Pedro é vítima de piadas e gozações, já tendo sido atacado com pedras e pedaços de madeira. "Só tenho dois amigos no colégio. Muitas vezes eu quero jogar bola e não posso. Quando eu sei que eles vêm me bater eu reajo. Eles nunca param".

A mãe do garoto, Renata (nome fictício), explica que a situação que o filho enfrenta afeta a família inteira, exigindo que o menino seja acompanhado por um adulto na chegada e na saída da escola. "Já tentei falar com professores e até com os pais de outras crianças, mas não adianta".

A psicóloga Veriana Colaço destaca que no bullying, a humilhação é persistente e por esta razão as marcas são mais profundas. Para superá-las é fundamental o apoio da família e da escola.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Não é simples combater o problema

Luiz Rogério nogueira

Professor e pesquisador

O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. As causas desse tipo de comportamento são variadas. Poderia dividir em dois grupos: no primeiro são crianças ou adolescentes provenientes de famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros.

No segundo grupo estão as crianças e adolescentes mimados, que não possuem em casa limites para as suas atitudes. É difícil identificar esta forma de violência por parte dos familiares e da escola, uma vez que a vítima se vale da "lei do silêncio". Não existem soluções simples para se combater o Bullying. Trata-se de um problema complexo e de causas múltiplas. Portanto, cada escola deve desenvolver sua própria estratégia para reduzi-lo. É importante saber que adotar posturas não-violentas trará benefícios a todo o contexto escolar.

ESTRATÉGIAS

Iniciativas buscam a paz e a harmonia

Prevenir e combater a violência entre crianças e adolescentes dentro das escolas cearenses deve ser encarado como um desafio. A conquista da paz é fundamental em um ambiente onde reina a agressão ao invés do respeito ao próximo.

Palestras, conversas e reuniões parecem ser estratégias frágeis diante da realidade pela qual meninos e meninas passam diariamente. Desta forma, novas atitudes estão sendo adotadas com o objetivo de reconquistar a harmonia nas escolas. Em 2010, o Governo do Estado propôs a criação da Lei 14.754, aprovada no mesmo ano. Segundo a norma legal, o Poder Executivo está autorizado a instituir programa de prevenção e combate ao preconceito, intimidação, ameaça, violência física e/ou psicológica originária do ambiente escolar, o bullying.

Outra ação relacionada ao tema é o projeto de Lei Nº 0045/2011 do deputado estadual Heitor Férrer. A proposta prevê a inclusão de medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying no projeto pedagógico das escolas públicas e privadas de educação básica em todo o Estado. Vítima de bullying na infância por ser do interior, Heitor Férrer explica que a Lei tem como meta adotar ações de enfrentamento e capacitação dos docentes. "A sociedade para se proteger precisa corrigir esses agressores e dar equilíbrio aos que sofrem esta violência", destaca.

Nas escolas, a Lei criada é aplicada aos poucos. Segundo a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), baseando-se no que propõe a norma, está sendo implantando nos colégios estaduais o programa Geração da Paz, visando à construção de uma cultura de paz.

Já nas escolas municipais, conforme Arlindo Araújo, coordenador de ensino Fundamental e Médio da Secretaria Municipal de Educação (SME), são desenvolvidas duas iniciativas específicas. Uma denominada de Escola que Protege direcionada para a qualificação dos professores no enfrentamento da violência; e uma outra ação voltada para o acompanhamento da família e dos alunos. "Considerando que nós temos 220 mil estudantes, 15 mil profissionais e 420 escolas, há de se analisar positivamente a execução e o cumprimento dessas ações"."



JÉSSICA PETRUCCI
REPÓRTER


FONTE:  JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=966824

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