SOU DO CEARÁ


"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome , pergunto o que há ?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará."

Patativa do Assaré

quinta-feira, 14 de maio de 2009

POESIA CEARENSE - AUTOR: LÚCIO ALCÂNTARA


O RIO DA MINHA INFÂNCIA


O rio da minha infância
Era largo e era estreito
Era fundo e era raso
Era manso e era revolto
Era longo e era curto
Contrastante de lembranças, abismo da memória
No fundo do poço na curva do rio da minha infância
Jazem os sonhos do menino.
Cruzar a nado nas torrentes dos invernos
o rio da minha infância era o heroísmo do dia.
Cruzar a passo a vida é
O heroísmo de uma existência.
Os ramos da velha oiticica pendem sobre o rio
Como fios ligando o céu e a terra.
O galho grosso da árvore enorme foi meu trampolim para a vida.
Dali pulei na água, dali pulei na vida.
Na estrada
O ronco dos motores abafa sob a ponte o barulho do rio
E, no entanto, ouço claro o murmúrio do rio da minha infância.
O rio continua o mesmo
Enche e vaza ao ritmo dos invernos
- Cheio, anuncia a fartura que virá
- Seco, murcha a esperança dos homens.
O rio da minha infância já não corre há muito.
Águas paradas decantam minhas lembranças fertilizadas pelo húmus dos aluviões.
O leito tórrido do rio
É o ataúde da minha memória.



( LÚCIO ALCÂNTARA )

LIVRO: " O RIO DA MINHA VIDA "

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