sábado, 26 de janeiro de 2013

POESIA CEARENSE: JÁDER DE CARVALHO





TERRA BÁRBARA



Na minha terra, as estradas são tortuosas e tristes
como o destino do seu povo errante.
Viajor, se ardes em sede,
se acaso a noite te alcançou,
bate sem susto no primeiro pouso:
- terás água fresca para a tua sede, -
rede cheirosa e branca para o teu sono.

Na minha terra, o cangaceiro é leal e valente:
jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém e morre.

(Brasil, onde mais energia: na água, que tem um só destino,
do teu Salto das Sete Quedas ou na vida, que tem mil destinos,
do teu jagunço aventureiro e nômade?)

Ah, eu sou da terra do seringueiro, -
o intruso que foi surpreender a puberdade da Amazônia.
Eu sou da terra onde o homem, seminu, planta de sol a sol
o algodão para vestir o Brasil.
Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá
e fui crescer nos canaviais do Cariri,
entre caboclos belicosos e ágeis.
Filho da gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos,
eu sou o índice do meu povo:
Se o homem é bom - eu o respeito.

Se gosta de mim - morro por ele.
Se, porque é forte, entendesse de humilhar-me,
- ai, sertão! eu viveria o teu drama selvagem,
ou te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,
como antes te acordava ao choro da viola...


JÁDER DE CARVALHO



*JÁDER DE CARVALHO Nasceu em Quixadá, 29/12/1901 e faleceu em Fortaleza (07/08/85). De formação socialista, o poeta fundou jornais - O Combate, A Esquerda e Diário do Povo - em que, ao estilo de João Brígido e aliado à sua valentia pessoal, aponta erros de governantes e políticos, seja através de artigos na imprensa, ou pelo arrojo de sua oratória. O talento de jornalista, aliado à cultura de sociólogo, se fazem fundamentais quando na sua viagem pelo romance e a poesia. Em 1928, em parceria com outros pioneiros do movimento modernista no Ceará, lança O Canto Novo da Raça; em 1931, Terra de Ninguém, e, a estes, seguem-se vários livros de versos nos quais o poeta cantará sempre a sua terra e o seu povo.

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