domingo, 18 de dezembro de 2011

A CRISE NA SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DO CEARÁ

Violeta Arraes substituiu Barros Pinho na Secult em 1988, ainda na primeira gestão de Tasso Jereissati (FERNANDO SÁ, EM 16/1/1991)
" Violeta Arraes substituiu Barros Pinho na Secult em 1988, ainda na primeira gestão de Tasso Jereissati " (FOTO: FERNANDO SÁ, EM 16/1/1991)


" Cadê a Secult que estava aqui? "


" COM 45 ANOS DE HISTÓRIA, a Secretaria da Cultura do Estado vive dias de desprestígio e inoperância. Hoje longe de figurar na linha de frente do Governo, a pasta caiu num silêncio que não condiz com sua trajetória "


" Criada em 1966, a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) encerra 2011 sem grandes motivos para guardar o ano em suas memórias. Pasta central em governos anteriores, a Secult vem minguando força e expressividade numa velocidade preocupante. Basta pontuar, por exemplo, que, nesses primeiros 12 meses do segundo mandato do governador Cid Gomes, a secretaria ficou boa parte do tempo sem um titular. Apresentado publicamente como secretário, o deputado estadual Francisco Pinheiro (PT) optou pela Assembleia Legislativa durante quatro meses e só foi formalmente nomeado para o cargo em 19 de agosto último.

Tal instabilidade política e administrativa não condiz com a história da Secult. Tradicionalmente, a secretaria, mesmo não contando com orçamentos volumosos, figurava entre as pastas de maior destaque, contando com nomes de peso. Desde o célebre historiador Raimundo Girão, primeiro a comandar a pasta, os secretários da Cultura costumavam ter grande inserção e influência nos governos. Que o diga a gestão primeira do ex-governador Tasso Jereissati. Em seu mandato inaugural, Tasso, estrategicamente, decidiu turbinar a pasta e fez isso trazendo de volta ao Ceará a socióloga Violeta Arraes.

Dona Violeta, como era chamada, tinha projeção nacional e internacional, era querida por artistas e intelectuais de primeira linha em todo o País, e tomou para si as principais e mais audaciosas ações de sua gestão. Personalista, ela vai ser sempre lembrada como a responsável pela grande reforma do Theatro José de Alencar, reinaugurado em 1991; nunca, jamais, pelo projeto frustrado de criação do nosso polo de cinema. Depois dela e depois disso, cada novo secretário queria mais, queria ir além, custasse o que custasse.

Assim, o jornalista Paulo Linhares cria o Instituto Dragão do Mar e implementa o mais ambicioso projeto de formação artística que o Estado já desenvolveu. Assim, o também jornalista Nilton Almeida inaugura e toca a fase áurea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Assim, a antropóloga Cláudia Leitão instaura uma desafiadora política de difusão de ações e eventos por todo o Interior cearense, criando um forte calendário cultural que se estendia por todo o ano.

O problema é que, na ânsia por inscrever sua própria marca, cada novo titular da Secult trabalhava, também, para apagar a marca de seu anterior, fazendo da política cultural do Estado um campo sempre vítima da novidade da hora e carente de continuidade. Onde foi parar o Instituto Dragão do Mar, por exemplo? Paulo Linhares, ainda hoje, jura que o projeto era viável, enquanto Nilton Almeida e Cláudia Leitão jogam um para o outro a responsabilidade pelo fim da iniciativa.

Descompassada, a Secult, porém, sempre foi proativa. Mesmo nos momentos de crise, a secretaria parecia trabalhar com metas e objetivos claros, embora facilmente contestáveis. Quem não lembra o conturbado processo de criação do projeto que cuida dos nossos Mestres da Cultura? A ideia, fabulosa, apresentada por Cláudia Leitão, foi fortemente criticada por conta da exigência de atestado de pobreza para que os artistas agraciados pudessem receber um salário mínimo de aposentadoria. Nos últimos anos, no entanto, a Secretaria da Cultura vive um incômodo silêncio.

Antecessor de Francisco Pinheiro, o professor e filósofo Auto Filho, prometeu instaurar uma revolucionária política bolivariana, que nunca nem mesmo chegou a ficar clara do que seria exatamente. Auto Filho tinha, ainda, metas de dinamizar o sistema público de bibliotecas, ampliando a disponibilidade e a quantidade de títulos em todo o Ceará. Se o fez, não alardeou seu feito, como de praxe costumam fazer os políticos. Homem das ideias, o fato é que o professor Auto Filho não construiu um terreno sólido para quem quer que o viesse seguir. Exagero falar em “herança maldita”, mas o desafio que caiu sob Pinheiro era imenso. Era, não. É.

A Secretaria da Cultura que ele recebeu já vinha num viés de baixa. Cenário tal que nem Francisco Pinheiro, nem o Governo como um todo, decidiram ainda enfrentar. 2011, para a cultura do Ceará, termina um tanto pior do que começou. Como não chegar a essa conclusão diante da imagem emblemática do último Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga sendo realizado na rua porque o teatro público da cidade estava interditado, vítima de uma construção sempre arremedada e nunca concluída? Com 2012 já pedindo passagem, é mais que urgente a Secult começar a correr atrás do tempo perdido."

Magela Lima
magela@opovo.com.br



FONTE:  JORNAL O POVO
 http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/12/17/noticiavidaeartejornal,2358989/cade-a-secult-que-estava-aqui.shtml

Um comentário:

  1. excelente explanação,com um cunho historico inquestionavel, vale resaltar que nenhum governo pode pensar suas açoes sem um plano de continuidade, e que na busca do proprio umbigo, somente o povo cearense saiu perdendo... pois um povo sem cultura nao é nada...

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