sábado, 18 de maio de 2013

A POESIA DE AURIBERTO CAVALCANTE

EM 1999, NO CENTRO CULTURAL
DRAGÃO DO MAR, AURIBERTO
CAVALCANTE LANÇA " BERROS ".
VEJA A CAPA DO LIVRO:



FOI BEM RECEBIDO PELA
 CRÍTICA E PELOS LEITORES.
VEJA O QUE DISSE O ESCRITOR
DIMAS MACÊDO:


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VEJA O QUE DISSE
O GRANDE POETA
FRANCISCO DE CARVALHO
EM ARTIGO PARA O
" BADALO ", JORNAL
DO GRUPO CHOCALHO:


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FRANCISCO CARVALHO



  " BERROS RIMA COM EROS
"
 

" O Prof. Auriberto Cavalcante, do Liceu do Ceará, em visita que me fez recentemente, ofereceu-me os livros de poemas de sua autoria, a seguir enumerados: Berros (1999), Vinte Anos de Poesia (2002) e 2004. Não precisa ser um especialista no assunto para concluir que o poeta fez opção pelo discurso social estruturado numa linguagem que se caracteriza pela agressividade da sintaxe. Nada de lirismo do tipo flor de laranjeira, até mesmo quando escreve poemas de amor. O Poeminha Romântico (Berros, p. 109) é um recado nada diplomático de um Romeu que fala diretamente do que lhe interessa, sem rodeios e metáforas, a uma Julieta completamente fora dos padrões shakespeareanos.
A mesma agressividade está presente na maioria dos poemas de fundo social. A poesia de Auriberto Cavalcante é sujeito com objeto direto. Uma verdadeira explosão. Um bombardeio epigramático, a lembrar as flechas mais envenenadas do barão de Itararé. Poesia cujo núcleo verbal é feito de rebeldia, de sarcasmo, de indignação contra toda forma de injustiça e de exploração do homem pelo homem. Em Made in Brazil, o poeta denuncia que “o americano / bebe o suor / do brasileiro / nosso café / come a nossa lagosta / impõe sua vontade (...) e ainda cobra juros”. É um retrato perfeito da subserviência dos governos latino-americanos aos agiotas internacionais, que mandam seus recados por e-mail para os vassalos do Terceiro Mundo, ordenam confiscos de salários dos trabalhadores da ativa e dos aposentados, além de cometerem outros absurdos, como a instituição do obsceno superávit primário, uma espécie de bezerro de ouro dos tempos modernos.
Auriberto Cavalcante adverte num poema telegráfico: “NAS MÃOS DO AGIOTA / JAZ UM IDOTA”. Outros poemas construídos com a mesma argila da indignação: “O feto bailava / no útero de ouro / da mulher rica. // Outro feto jazia / no útero de fome / da mulher pobre”. Em outro poema de 2004 (p. 63), o poeta volta a tocar o dedo na ferida, ao dizer que “o FMI / deixa a população sem salário / sem educação / sem saúde / sem emprego / sem segurança / sem esperança”. Na página 25 de Berros, o autor presta homenagem das mais justas ao grande médico e poeta Caetano Ximenes Aragão, falecido há vários anos, que se notabilizou pela contundência do seu discurso poético e pelas vertentes sociais de sua temática. São de CXA os versos a seguir “SOU NORDESTINO / SOU UM NÓ / DO DESTINO”.
Vários intelectuais cearenses têm manifestado seus pontos de vista sobre a poética de Auriberto Cavalcante. Dimas Macêdo nos dá sua opinião: “O certo é que o poeta apurou sua voz e deu maior poder de vôo à imaginação (...) à construção de uma poesia dialética e participativa, que instiga a práxis do engajamento e a restauração da política do corpo”.
Todo poeta deve ter a liberdade de escolher os seus caminhos e de expressar livremente a sua visão-de-mundo. Da mesma forma, tem a obrigação de respeitar aqueles que pensam e agem de forma diferente, segundo os princípios de diversidade e pluralidade que estão na origem da natureza humana. Num mundo e numa época em que até as chamadas ciências exatas mudam de pele todas as semanas, ninguém pode ostentar o brasão de dono exclusivo da verdade. Auriberto Cavalcante fez opção por uma linguagem direta e muitas vezes agressiva, seja quando focaliza problemas sociais ou quando escreve poemas de amor. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, é o que nos diz Fernando Pessoa, um ícone da poesia ocidental.
O importante é não estrangular a voz na garganta, não calar, não se omitir, não imitar o procedimento do avestruz, não enterrar a cabeça na areia quando pressente a aproximação do perigo. E como no pantanal dos podres poderes existem avestruzes enterrando as cabeças para evitar que sejam atingidos pelas vaias e os ovos que o povo lhes atira! Como são numerosos e como são reluzentes as suas plumas! Eles se parecem com aqueles animais que assimilam as cores da paisagem, numa típica estratégia de sobrevivência. Todos sabemos, inclusive o autor desses livros, que as nossas catilinárias poéticas não têm o poder de reverter as injustiças praticadas pelo FMI contra os pobres do mundo inteiro que sucumbem diariamente nos países subdesenvolvidos. De resto, impossível não concordar com o poeta que assina embaixo destes versos: “O Zodíaco é uma zona / Entra quem acredita”.



FRANCISCO CARVALHO 

IN: JORNAL " BADALO "  DO  GRUPO CHOCALHO




POESIAS DO LIVRO
" BERROS "





SAINDO DO PORÃO




As algema enferrrujadas

Se quebrarão

As mordaças podres

Se rasgarão

Todas as vozes

Se erguirão

O povo

Sairá

Do

Porão.



 

AURIBERTO CAVALCANTE









HEREDITARIEDADE



O feto bailava

No útero de ouro

Da mulher rica.



Outro feto

Jazia

No útero de fome

Da mulher pobre.


AURIBERTO CAVALCANTE











 

PRISÃO


 

Nas mãos

Do agiota

Jaz um

Idiota.


 

AURIBERTO CAVALCANTE










DECISÃO



Enquanto

no meu país

existir

fome

desemprego

homens sem terras

corrupção

exploração do homem

pelo homem

meu poema

será de combate

cada verso guerrilheiro

empunhará na consciência

do meu povo

o fuzil

da resistência

a bandeira da liberdade.



AURIBERTO CAVALCANTE







GRAVIDEZ


UM toque íntimo de amor;

DOIS corpos unidos;

TRÊS almas ansiosas;

QUATRO braços amantes;

CINCO quilos mais gorda;

SEIS desejos incontroláveis;

SETE noites decisivas;

OITO horas regressivas;

NOVE meses, NOVA VIDA.



AURIBERTO CAVALCANTE

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