sexta-feira, 27 de maio de 2011

POESIA CEARENSE: JÁDER DE CARVALHO

JÁDER DE CARVALHO








TERRA BÁRBARA



Na minha terra,
as estradas são tortuosas e tristes
como o destino de seu povo errante.
Viajor,
se ardes em sede,
se acaso a noite te alcançou,
bate sem susto no primeiro pouso:
— terás água fresca para sua sede,
— rede cheirosa e branca para o teu sono.



Na minha terra,
o cangaceiro é leal e valente:
jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém — e morre.



(Brasil, onde mais energia:
na água, que tem num só destino
do teu Salto das Sete Quedas
ou na vida, que tem mil destinos,
do teu jagunço aventureiro e nômade?)
Ah, eu sou da terra do seringueiro,
— o intruso
que foi surpreender a puberdade da Amazônia.



Eu sou da terra onde o homem, seminu,
planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.
Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá
e fui crescer nos canaviais do Cariri,
entre caboclos belicosos e ágeis.



Filho de gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos,
eu sou o índice do meu povo:
se o homem é bom — eu o respeito.
Se gosta de mim — morro por ele.
Se, porque é forte, entender de humilhar-me,
— ai, sertão!
Eu viveria o teu drama selvagem,
eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,
como antes te acordava ao choro da viola...



JÁDER DE CARVALHO
 
 
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CONHEÇA MAIS SOBRE A VIDA DE JÁDER DE CARVALHO
 
Jáder Moreira de Carvalho
 
 
" Nasceu em Quixadá no distrito de Serra do Estêvão, hoje Dom Maurício em 29 de dezembro de 1901, filho de Francisco Adolfo Carvalho e Rita Moreira. Em sua infância e juventude vivenciou sucessivas secas inclusive a de 1915, acompanhando o êxodo rural, os crimes políticos da época, as brigas pela terra, o latifúndio, a fome e a miséria associadas à pobreza da população cearense.


Iniciou sua atuação em 1917, na cidade de Iguatu quando seu pai arrendou uma tipografia ociosa, pertencente a um farmacêutico chamado Arnoud. Nesta tipografia imprimiu um semanário de letras com escritos próprios além de sonetos de Olavo Bilac. Estudou com o pai, no Ateneu Quixadense, e no Liceu, em Fortaleza, onde, anos mais tarde, foi professor, inspetor regional e catedrático. Aos 20 anos já era considerado uma dos maiores intelectuais da época. Em 1922, com apenas 21 anos, despontava como destaque entre os novos escritores da literatura cearense.

Como jornalista fundou o jornal socialista A Esquerda em 1928. No mesmo ano, em parceria com outros pioneiros do movimento modernista no Ceará, lança "O Canto Novo da Raça". Em 1929, passa a pertencer ao grupo modernista Maracajá . Em 1931 lança "Terra de Ninguém" e, a este, seguem-se vários outros livros de versos. No mesmo ano, sai graduado em direito da Faculdade de Direito do Ceará.

Por divulgar as idéias do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e por criticar duramente o governo de Getúlio Vargas foi condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional do Estado Novo acusado de divulgar o marxismo. Permaneceu preso de 1943 a 1945. Nessa época, na companhia de outros dissidentes do PCB, fundou a Esquerda Democrática, embrião do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Depois, a convite de Paulo Sarasate, foi articulista do jornal O Povo.

Fundou o Diário do Povo em 1947 onde atuou até 1961.


(...) O meu jornal [Diário do Povo] era uma exceção dentro do jornalismo brasileiro. Apesar de pequeno, humilde, um jornal de província, lá realizei a verdadeira democracia. (...)

— Jader de Carvaho em entrevista em 1981.


Pertenceu à Academia Cearense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 14, à Sociedade Brasileira de Sociologia e ao Instituto do Nordeste. Em 1974, com a morte de Cruz Filho, foi eleito Príncipe dos Poetas Cearenses, prêmio concedido o melhor dentre os poetas vivos do estado.

Casou-se com a contista Margarida Sabóia de Carvalho com quem teve sete filhos.

Jáder de Carvalho morreu aos 83 anos.

Obra

A obra de Jáder de Carvalho é composta por uma literatura caracterizada por sofisticado valor estético e social.

Estreou em 1928 com "O Canto Novo da Raça", obra dividida com Sidney Neto, Franklin Nascimento e Mozart Firmeza, pioneiros do movimento modernista no Ceará. Em 1931, participou diretamente do surgimento do Modernismo cearense com o lançamento de "Terra de Ninguém", a este, seguem-se vários outros romances, todos de cunho social: "Classe Média" e "Doutor Geraldo" (1937), "A Criança Vive' (1945), "Eu Quero o Sol" (1946), "Sua Majestade, o Juiz" (1962) e "Aldeota" (1963).

Entre os temas sociológicos: "O Problema Demográfico Brasileiro" e "O Índio Brasileiro" (1930) e "Povo Sem Terra" (1935).

Um dos livros de poesias mais famosos é "Terra Bárbara" (1965). Onde escreveu diversos poemas, entre os quais "Em Louvor de Quixeramobim", "Terra Bárbara", "Nordeste de Lampião", "Lampião", "Terra", "Padre Cícero", "São Francisco de Canindé", "Luz e Força", "A Guerra Acreana", "A Seca dos Inhamuns" e "Dobrai, Ó Sinais do Natal"."



FONTE:  WIKIPÉDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE                                
http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%A1der_Moreira_de_Carvalho


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falAÇÃO


Tive o prazer de conhecer, conviver com o GRANDE HOMEM, POETA E JORNALISTA, Jáder de Carvalho... Cheguei a frequentar sua casa ( na Rua Agapito dos Santos,389 ).
Em uma das visitas, Jáder me presenteou com vários livros de sua autoria ( todos autografados )...
 Foi meu grande mestre...

Ainda me lembro que uma vez me convidou para conhecer seu escritório ( tinha que subir uma escada de ferro, estreita em forma de espiral, difícil de subir (principalmente ele, já idoso )... eram longas conversas, muitos ensinamentos...SAUDADE...


CAPA DE LIVRO " ALDEOTA "
DE JÁDER DE CARVALHO



Estou relendo seu livro " MEU PASSO NA RUA ALHEIA " ( TERRA DO SOL EDITORA, 1981).
Entre os meus preferidos estão:  " ALDEOTA "  e " SUA MAJESTADE O JUÍZ "...
GRANDE POETA E ESCRITOR...
GRANDE CEARENSE... LUZ NA TERRA DA LUZ !

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