" A guerra não é no Rio "
" O País e o mundo acompanham atentos à maior operação policial-militar da história no combate ao tráfico de drogas e armas que se trava nos morros do Rio de Janeiro. Mas pouca gente atenta para o fato de que essas cinematográficas ocupações dos morros e favelas é apenas mais uma comprovação do quanto o Estado foi omisso no que tange ao combate ao crime organizado naquelas áreas ao longo dos anos, muitos anos. Os bandidos tomaram conta daquelas comunidades porque os governos, por omissão ou cumplicidade, permitiram.
Por que polícias e forças armadas esperaram tantos anos para declarar esse tipo de guerra ao tráfico? O que se via sempre eram meros arroubos, com tropas invadindo o território do crime, prendendo ou matando alguns traficantes sem expressão e logo deixando tudo como estava. É preciso que as autoridades se convençam de que essa guerra à droga e ao trágico de armas está se travando em campo errado. Ela devia ocorrer não nos morros cariocas, mas nas nossas fronteiras, nos aeroportos e portos. De nada adianta esse exibicionismo bélico, armas, ocupações e prisões de bagrinhos, se os caminhos por onde entram as drogas e armas não forem bloqueados.
Nenhum traficante de grande porte foi preso nessas ações no complexo do Alemão. Todos os chefões se mandaram, quem sabe avisados da operação. Quando os soldados se forem eles voltarão. Se a ocupação continuar, eles alargarão seus territórios e logo estarão operando em outros centros urbanos. É que aí que surge a ameaça para qual o governo não está atentando. Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza e outras capitais são caldo de cultura excelente para o desenvolvimento do crime organizado. E nenhuma delas está preparada para evitar ou combater isso.
De nada adiantarão essas caras operações militares se a droga e as armas continuarem a entrar facilmente e em grandes quantidades pelas nossas fronteiras e portos. Por que as nossas Forças Armadas servem até de guardas de trânsito no Haiti e não podem deixar os quartéis para policiar as nossas fronteiras? Elas são na verdade das poucas instituições não infiltradas pela bandidagem e merecem a confiança dos brasileiros. Não podemos deixar essas tropas apenas na espera de uma defesa da pátria contra inimigo externo. Esse inimigo externo já existe: são os cartéis das drogas e das armas."
RANGEL CAVALCANTE
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE - COLUNA DE BRASÍLIA -
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=896353
Nenhum comentário:
Postar um comentário