domingo, 19 de setembro de 2010

SAÚDE PÚBLICA NA UTI

" Café amargo "

" Quando assumir em janeiro próximo, o ministro da Saúde do novo governo vai encontrar os armários e depósitos da sua pasta, assim como os de praticamente todos os hospitais públicos do Brasil, vazios de remédios e materiais hospitalares. Não conseguirá nem mesmo um Engov para a ressaca da festa de posse. Mas vai se deparar com um estoque de nada menos de 30 toneladas de café moído e torrado adquiridas pelo seu antecessor no apagar das luzes do governo Lula. É isso mesmo. Por incrível que pareça, enquanto milhares de pessoas padecem nas filas dos hospitais públicos em busca de uma cirurgia, um remédio, uma simples consulta médica e muitas delas morrem sem atendimento porque o sistema está falido, sucateado, saqueado e criminosamente abandonado, o Ministério da Saúde manda comprar 30 toneladas de café para o consumo interno da sua imensa burocracia. É isso mesmo. Não tem remédio, mas tem café. E do bom. Como explicar que 30 toneladas de café sejam compradas por um Ministério a menos de três meses do final do governo - já que elas só serão entregues no final de outubro? A saúde pública brasileira faliu. O cidadão tem que recorrer à Justiça para conseguir um internamento ou um remédio. E chega a morrer à porta do hospital com a liminar na mão, sem que a ordem judicial seja respeitada. E fica tudo por isso mesmo. Aqui em Brasília, morre gente nas filas do maior hospital público da capital do País, a poucas quadras do Palácio do presidente da República. Na semana passada, o repórter Adalmir Ponte mostrou bem isso aqui no Diário do Nordeste. Pois bem. Indiferente a esse quadro aterrador, o ministro da Saúde mandou comprar 30 mil toneladas de café. E chega ao requinte de exigir coisa boa, da melhor qualidade. Não serve genérico.

A rubiácea terá que ser do tipo exportação, torrada e moída, empacotada a vácuo puro e empacotada em embalagens aluminizadas de 500 gramas. Quer dizer que serão 60 mil pacotes de meio quilo do melhor café do mundo que estarão à disposição do sucessor do doutor Temporão, pois não é possível que pessoal de hoje beba toda essa cafezada em menos de 90 dias. Isso se realmente o total da compra for entregue e não houver mais mutreta no caminho. É assim que funciona a saúde pública no Brasil. Um verdadeiro caso de polícia. Só que a polícia só aparece para expulsar os que protestam em frente aos hospitais e postos de saúde. Os governantes não sentem isso. Também pudera. Presidente, vice-presidente, ministro, senador, deputado e seus familiares não passam nem perto de um hospital público. Todos têm assistência médica, hospitalar, odontológica e até veterinária, se necessária, tudo de graça."



FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
COLUNA DE BRASÍLIA

RANGEL CAVALCANTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=852175

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