sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" SAÚDE NA UTI "

Sem estrutura e superlotados, HGF e IJF enfrentam crise


Hospital geral: pacientes em macas espalhadas pelos corredores aguardando internação denunciavam a precariedade no atendimento
FOTO:  RODRIGO CARVALHO - DIÁRIO DO NORDESTE



" Maioria dos pacientes espalhados em macas pelos corredores das unidades vem de municípios do Interior."







" Os dois mais importantes hospitais de urgência e emergência do Ceará, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e o Instituto José Frota (IJF), estão em crise. A falta de estrutura das duas unidades, déficit de leitos e de pessoal, inexistência de hospitais de média e alta complexidade no Interior do Estado e o período eleitoral são apontados como as principais causas que arremessaram mais uma vez os dois para essa situação crítica e de superlotação.
Se o quadro é considerado grave no IJF, provocando a saída do diretor clínico, Fred Arnauld, e do diretor da Emergência, Rommel Araújo, de seus cargos; o HGF enfrenta drama semelhante. Lá, a demanda por atendimento no setor aumentou 30% nos últimos meses.
O número de leitos é insuficiente - 26. E somente ontem, 116 pacientes esperavam por internação espalhados em macas pelos corredores. A média de atendimento mensal é de 7.400 pessoas. A área de internação é a mais prejudica pela superlotação com um aumento de 725 internações para 800 internações por mês.
As cirurgias eletivas (as que podem ser marcadas) foram suspensas para que os leitos pudessem ser ocupados pelos casos da emergência. Tudo exacerbado pela greve dos médicos residentes e a ameaça de paralisação, na próxima segunda-feira, das enfermeiras e auxiliares ligadas à Cooperativa de Profissionais de Enfermagem do Ceará.
Duas delas, que pediram para não ser identificadas, informaram que a carga de trabalho triplicou nos últimos dias e somada às condições adversas de atendimento levaram dois médicos da área de parada car-diorrespiratória a pedir demissão. "Eles estão cumprindo aviso prévio e não querem se manifestar sobre o assunto", disse uma das enfermeiras. O fato não foi confirmado pela direção do hospital. A área da Parada Cardiorrespiratória é um dos setores mais importantes da emergência do HGF. Para lá, são levados os casos severos e que precisam de intubação. São quatro leitos. Na manhã de ontem, oito doentes disputavam os equipamentos indispensáveis. Na área de estabilização, eram nove pessoas para seis leitos e, na observação, 20 pacientes se revezavam em 16 leitos.
A equipe do jornal foi impedida de fotografar o caos instalado, no entanto, conseguiu imagens das macas pelos corredores, já chegando no hall principal do Unidade Régis Jucá, na lateral da emergência, e de pessoas esperando no chão ou do lado de fora. A situação caótica foi confirmada por servidores e pessoal da seguranças. Por receio de retaliação, todos pediram para não serem identificados. Alguns, fizeram registraram fotos pelo celular. "O problema é grave e ninguém aguenta se deparar com isso diariamente", confessou uma enfermeira que não se identificou.
Além de perigosas, a superlotação e a carga exaustiva de trabalho provocaram fatos absurdos como a perda de prontuários e, com isso, da localização de pacientes jogados em macas. Nelson Rocha Aguiar, de 62 anos, é exemplo.
Vítima de uma doença rara, a Síndrome de Guillain-Barré (nervos periféricos se deterioram), ele necessitou de atendimento de urgência do Hospital Geral, para onde foi levado na terça-feira passada pela irmã, Norma Rocha.
Sem vaga em leito, ele ficou em uma maca esperando atendimento de neurologista. A espera levou a família quase ao desespero por Nelson precisar de medicamentos e tratamento especializado de emergência. "Até a ficha dele foi perdida e nós ficamos rodando as macas procurando nosso irmão. Isso é o absurdo dos absurdos. Meu irmão está morrendo e nada é feito", desabafa ela.
A direção do hospital reconhece que não tem mais lugar na emergência, mas não se manifestou oficialmente sobre o assunto. A assessoria de imprensa da unidade explicou que existe a classificação de risco, mesmo assim, o Hospital Geral não barra nenhum paciente
A maior demanda, informa, é de pacientes vindos do Interior e que somente na emergência são 16 médicos por plantão, além de mais seis que acompanham os pacientes na observação e uma equipe de dez enfermeiras e 20 auxiliares."


LÊDA GONÇALVES E LINA MOSCOSO
REPÓRTERES
DIÁRIO DO NORDESTE
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=852242

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