terça-feira, 2 de junho de 2009

SEPULTAMENTOS INDIGNOS: VEREADORES VÃO AO CEMITÉRIO


FOTO - NATINHO RODRIGUES - DIÁRIO DO NORDESTE
MATÉRIA EXTRAIDA DO DIÁRIO DO NORDESTE

Parlamentares foram ao Cemitério do Bom Jardim e ouviram dos moradores relatos sobre sepultamentos indignos

Uma comissão formada por cinco vereadores visitou, ontem pela manhã, o Cemitério Parque Bom Jardim, onde, conforme apurou o Diário do Nordeste, corpos de indigentes e restos humanos, procedentes do IML da Capital, vinham sendo enterrados sem caixões e jogados em valas comuns. A presença dos vereadores no local serviu para que os moradores reforçassem a denúncia de que, há meses, o fato vinha acontecendo, contrariando a versão sustentada pelas autoridades da Perícia Forense do Estado (Pefoce) e da Prefeitura Municipal de Fortaleza, segundo a qual os sepultamentos indignos ocorreram ´apenas´ duas vezes.

“Estamos aqui com o objetivo de conhecer de perto o problema que foi denunciado pelo Diário do Nordeste”, disse o vereador José do Carmo (PSL), referindo-se à matéria publicada na edição do último dia 28, com o registro de um flagrante de cadáveres sendo despejados em uma vala, de forma aviltante, desrespeitando a dignidade humana e a saúde pública da população do bairro.

Topografia

O vereador e médico Iraguassu Teixeira (PDT) também integrou a comissão. Ele afirmou que está solicitando à Prefeitura de Fortaleza o mapa topográfico do terreno para fazer uma avaliação. O cemitério fica cerca de três metros acima do nível das casas da comunidade São José, localizada nos fundos do terreno.

Além disso, Iraguassu vai solicitar da Secretaria Executiva Regional (SER) V - responsável pelo cemitério - outros documentos oficiais. Também fizeram parte da comissão os vereadores Antônio Henrique (PTN), Valdeck Vasconcelos (PTB) e Cassimiro Neto (PP).

A visita foi acompanhada pelo secretário Réscio Araújo, titular da SER V. Ele confirmou que, nos dias 26 e 27 últimos, corpos de indigentes oriundos do IML foram sepultados ali sem caixões. “Isso nunca tinha ocorrido antes. Foram apenas naqueles dois dias. Na Regional não tínhamos conhecimento de que os cadáveres foram enterrados sem caixões. Estamos instaurando uma sindicância administrativa para apurar se houve responsabilidade de algum servidor do cemitério em permitir aquilo.”

Segundo Araújo, sete cadáveres foram deixados no cemitério daquela forma. “Cinco às 16 horas do dia 26, e outros dois às 12 horas do dia 27, apenas”, amenizou o secretário. Ele negou que os corpos tenham sido enterrados em uma vala comum. “Foram sepultados em valas individuais e devidamente identificadas”, afirmou. Moradores da área próxima ao cemitério continuam afirmando que a situação se repetia há algum tempo.

Sobre o fato do rabecão não ter entrado no cemitério, parando, estranhamente, ao lado de uma cerca de arame farpado por onde foram passadas as gavetas, Araújo disse, “Isso não foi correto. Vamos apurar.”

Hoje, a promotora de Justiça Isabel Porto, que apura o caso, vai ao Cemitério do Bom Jardim fazer uma investigação ´in loco´. Será às 14 horas. Técnicos da Vigilância Sanitária do Estado estarão presentes.

Fernando Ribeiro/Nathália Lobo
Editor/repórter

O QUE ELES PENSAM
Comunidade e político falam sobre o caso

Da minha casa tive a oportunidade de ver, por várias vezes, corpos sendo enterrados sem caixões. O rabecão trazia os corpos e eles eram jogados. Isso aconteceu, repito, diversas vezes. As pessoas que moram aqui sabem disso. Não foram somente naqueles dois dias. Mas depois que a reportagem saiu no Diário do Nordeste, na última quinta-feira (28), esses sepultamentos pararam. Quando chove, a situação fica pior. Uma água escorre para o lado da comunidade, tem mau cheiro e uma cor diferente.

Francisco Tomé Oliveira
Líder comunitário

Houve uma transgressão por parte do Instituto Médico Legal. Estou solicitando ao Laboratório Central a análise da água daquela comunidade. Temos que ver a qualidade desta água que é consumida pela comunidade, se está contaminada ou não. Será requisitado à administração do cemitério o relatório dos sepultamentos realizados. Queremos saber se os administradores têm o perfil epidemiológico das doenças de quem foi sepultado. Riscos de doenças são muito sérios.

Iraguassu Teixeira
Vereador e médico

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